quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Egipto: Nova lei do Copyright

É impossível, hoje em dia, falar em arte sem se discutir os direitos de autor. É assim desde sempre, ou pelo menos desde que se começou a pensar nestas coisas.
Um dos mais conhecidos textos sobre esta problemática foi escrito em 1936 por Walter Benjamin, "A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica" e surge no rescaldo de uma Revolução Industrial que passa a permitir a cópia em larga escala e a custos reduzidos. Nesta reflexão, o autor relembra a condição essencial de uma obra (a "aura") que desaparece com a possibilidade da cópia.
Hoje, ao ler este artigo (http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1314848&idCanal=14) não pude deixar de me lembrar desta questão. Até porque concordo com o Benjamin: A "aura" foi muito importante na antiguidade (quando a relação Homem/Obra de Arte tinha uma dimensão religiosa, quase sagrada) mas actualmente, a reprodução pode trazer muitos benefícios. A perda da aura (através da reprodução) leva a uma maior democratização da obra, a que o seu acesso seja mais facilitado.
Na minha opinião a aprovação, no Egipto de uma lei que obrigue ao pagamento de direitos de autor por obras com milhares de anos, vai ser mais prejudicial que benéfico. Se os industriais se virem obrigados a pagar um qualquer imposto para reproduzir um artefacto egípcio rapidamente deixarão de o fazer, optanto por um qualquer outro tipo de objectos. Ao fazê-lo as pirâmides perderão publicidade gratuita e inócua. Além disso, e neste caso particular não me parece, de forma alguma, que os originais percam "aura" pela existência de cópias. Não é a existência de uma reprodução de uma pirâmide no Louvre que levará a que as pessoas não visitem os originais no Egipto, antes pelo contrário, ao observar uma reprodução os visitantes sentir-se-ão com mais vontade de conhecer o original. Neste tipo de obra a experimentação é tudo e no caso de obras com esta magnitude é insubstituível. Daí que esta medida não me pareça que venha a ter implementação prática.
Compreendo o motivo que leva ao desejo de a implementar. As obras estão velhas e a começar a ruir. Mas para mim o futuro e a manutenção deve passar por outras acções que não a destruição de uma imagem de marketing que chega a todo o mundo. Porque não incentivar o governo Egipcio a um maior apoio, em detrimento de outros investimentos menos nobres? Para além disso o investimento privado é também uma solução.Não digo que coloquem faixas publicitárias nas paredes da pirâmide, mas associar a imagem a marcas, oferecendo-lhes a possibilidade de utilizar nas suas campanhas de marketing a "aura" de uma obra única. Não sei se seria possível, nem pensei muito nisso, mas parece melhor do que condenar estas obras ao abandono.

Sem comentários: